Prédio da Boate Kiss começa a ser demolido; letreiro é retirado e lugar será memorial
10/07/2024
Obras devem durar oito meses. Memorial homenageia 242 vítimas do incêndio que atingiu casa noturna em 27 de janeiro de 2013. Letreiro da Boate Kiss é retirado no início das obras de memorial em Santa Maria
O prédio da Boate Kiss começou a ser demolido nesta quarta-feira (10), em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. O letreiro com o nome da boate foi retirado, em ato que marcou o início das obras. Assista o vídeo acima.
No local do prédio, onde ocorreu o incêndio que matou 232 pessoas, em 2013, será construído um memorial.
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Sobreviventes e familiares das vítimas participaram do ato e soltaram 242 balões brancos, representando cada um dos mortos.
O presidente da Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Gabriel Rovadoschi, leu uma carta que foi entregue aos moradores vizinhos do prédio falando sobre a construção do memorial. Três ex-presidentes da entidade foram homenageados pelo trabalho realizado desde o incêndio.
"A gente entende que o memorial, para além de uma construção feita de tijolo e cimento, é uma construção que se inicia na palavra e carrega muito a história consigo", diz Rovadoschi.
Um telão foi colocado na rua, um pouco abaixo da fachada do prédio, exibindo depoimentos sobre a tragédia. A porta da boate e parte dos tapumes também foram retirados do local.
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Veja a lista de vítimas do incêndio
Letreiro da Boate Kiss sendo retirado de fachada de prédio em Santa Maria
Reprodução/RBS TV
Memorial
O projeto vencedor do memorial é do arquiteto paulista Felipe Zene Motta, que propôs a construção de um jardim central e de um único pavimento que seja de fácil construção e manutenção.
O memorial terá uma área de 383,65 metros quadrados. Serão três salas (um auditório com capacidade para 142 pessoas, uma sala multiuso e uma sala que será a sede da AVTSM). Além disso, o espaço contará com um jardim circular ao centro com 242 pilares de madeira em volta – cada um com o nome de uma vítima e um suporte de flores.
"Hoje ficou aquela ruína de boate, aquele monstro que todo mundo passa e remete imediatamente à tragédia. E por mais que o memorial tenha o objetivo de transformar aquele lugar numa coisa que transmita uma paz para os familiares, que dê algum tipo de conforto se é que isso é possível para eles, essa memória da tragédia não pode ser apagada", afirma o arquiteto.
O prazo para a entrega do memorial é de oito meses. A primeira etapa das obras inclui:
Definição dos itens que farão parte do acervo do memorial da AVTSM;
Remoção do telhado;
Classificação dos resíduos que permanecem no local para retirada de uma empresa especializada;
Abertura de um espaço na entrada central para ingresso de máquinas.
A empresa responsável pela execução da obra é a INFA Incorporadora Farroupilha, de Triunfo, que venceu a licitação. O custo do projeto é de R$ 4.870.004,68. Parte do valor será custeada com verbas do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL) do MPRS, que, em maio de 2023, oficializou o repasse de R$ 4 milhões. O restante será pago pela Prefeitura de Santa Maria.
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Relembre o caso
Na madrugada de 27 de janeiro de 2013, em um domingo, um incêndio atingiu a Boate Kiss, no centro de Santa Maria. 242 pessoas morreram e outras 636 ficaram feridas, após fagulhas de dispositivos pirotécnicos atingirem a espuma acústica que revestia o teto da boate. Uma fumaça tóxica se espalhou pela casa noturna ao pegar fogo (veja a cronologia).
Em dezembro de 2021, o tribunal do júri condenou quatro réus:
Elissandro Callegaro Spohr (empresário e sócio da casa noturna): 22 anos e seis meses de reclusão;
Mauro Londero Hoffmann (empresário e sócio da casa noturna): 19 anos e seis meses;
Marcelo de Jesus dos Santos (vocalista da banda que levantou o artefato pirotécnico): 18 anos de prisão;
Luciano Augusto Bonilha Leão (produtor que comprou e ativou o fogo de artifício): 18 anos de prisão.
No entanto, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul anulou o júri em 3 de agosto de 2022 alegando irregularidades na escolha dos jurados, reunião entre o juiz presidente do júri e os jurados, ilegalidades nos quesitos elaborados e suposta mudança da acusação na réplica, o que não é permitido.
Em 5 de setembro de 2023, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a anulação do júri por quatro votos a um. Em 2 de maio deste ano, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal o reestabelecimento da condenação dos quatro réus. A Procuradoria alega que as nulidades apontadas pelo Tribunal durante análise do caso pelo tribunal do júri não causaram prejuízo aos acusados.
Os quatro réus aguardam a definição em liberdade.
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