PF investiga servidor do Ibama por trazer gatos-palheiros do pantanal ao RS sem autorização
20/05/2025
(Foto: Reprodução) Felinos chegaram em setembro de 2024, oriundos de uma entidade particular localizada em Goiás. Animais foram deixados no zoológico de Cachoeira do Sul. Investigado é Paulo Guilherme Carniel Wagner, ex-superintendente do Ibama no RS e ex-chefe do do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas). Gato-palheiro trazido do pantanal ao RS
Instituto-Onça Pintada/Divulgação
A Polícia Federal (PF) abriu quatro novos inquéritos como desdobramentos da Operação Celeno, que investiga crimes ambientais no Rio Grande do Sul. Um deles apura a transferência irregular de três felinos silvestres da espécie gato-palheiro do Pantanal para o estado – e que teria sido feita de forma ilegal por um servidor do Ibama. O investigado é Paulo Guilherme Carniel Wagner, ex-superintendente do Ibama no RS e ex-chefe do do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas).
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Os felinos chegaram ao RS em setembro de 2024, oriundos do Instituto Onça-Pintada, uma entidade particular localizada em Goiás. A apuração da RBS TV revelou que Paulo e um ecólogo — que não faz parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) — se apresentaram como representantes de um instituto inexistente no estado. Os animais foram trazidos e deixados no zoológico de Cachoeira do Sul.
Procurado pela RBS TV, o Ibama confirmou que os animais permanecem no zoológico e não foram soltos. Afirmou, ainda, que o projeto está suspenso e que os animais "serão destinados conforme orientação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)". Leia abaixo na íntegra.
O Instituto Onça-Pintada foi procurado pela reportagem. O fundador, Leandro Silveira, afirmou que não era do seu "conhecimento o destino deles (animais)" e que apenas fizeram "todos os trâmites legais de transferência".
Segundo a delegada Jeanie Tufureti, não havia nenhum projeto documentado no Ibama sobre a vinda dos gatos:
"Não havia nenhum projeto de introdução dos animais do estado. A administração do Ibama não sabia da vinda desses animais. Então trouxeram, pra monitorar sem nenhuma autorização dos órgãos ambientais, tanto estadual quanto do próprio órgão, da própria autarquia federal do Ibama. E a documentação só foi feita no final do ano passado", diz.
Os felinos trazidos pertencem à subespécie do Pantanal (Leopardus bracatus), que não tem habitat natural no RS. No estado, vive o gato-palheiro pampeano (Leopardus munoai), espécie em alto risco de extinção e raramente avistada na natureza. As duas são consideradas espécies irmãs, ou seja, próximas na árvore evolutiva, mas com diferenças genéticas e adaptações específicas ao ambiente onde cada uma vive.
O Ibama afirmou também que notificou os envolvidos para prestar informações sobre a autorização de transporte.
Veículo do Ibama usado na ação
Divulgação
Outros três inquéritos
Os outros três inquéritos são desdobramentos envolvendo à introdução de harpias no criador Hayabusa, em São Francisco de Paula, alvo também da primeira investigação. Um é sobre maus-tratos a animais, outro por falsificação de anilhas e o último por irregularidades em outro criador amador.
Para a delegada, a conduta dos investigados se aproxima das práticas do tráfico de fauna silvestre — um mercado ilegal que movimenta bilhões por ano no Brasil, especialmente com espécies ameaçadas de extinção.
"A gente sabe que o tráfico de animais silvestres é muito intenso, no Rio Grande do Sul nós temos muito tráfico, as espécies ameaçadas de extinção, claro, elas são mais valorizadas. Um mercado que movimenta muito dinheiro", declarou Jeanie.
O que diz a defesa de Paulo
Paulo está afastado do cargo desde o início da investigação, que ocorreu em conjunto entre Ibama e PF. O advogado Eduardo Maluhy, que defende Paulo, disse que não teve conhecimento do novo inquérito e, por isso, não vai se manifestar.
O dono do criador Hayabusa negou ocorrer maus-tratos no estabelecimento.
Veja as respostas do Ibama na íntegra
g1 - O Ibama possui registro ou documentação referente a um projeto formal de reintrodução ou introdução desses animais no RS?
Ibama - "Nenhum dos gatos-palheiros que foram retirados do Instituto Onça-Pintada (IOP) foi solto no Rio Grande do Sul. Eles estão em um zoológico, e seriam parte de um projeto para reintrodução em áreas do Cerrado. Porém, tal projeto, por ora, encontra-se suspenso e os animais serão destinados conforme orientação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Há um projeto em acompanhamento de gatos palheiros-pampeanos, espécie ameaçada no estado sul-rio-grandense. Os animais estão sendo monitorados por rádio-colar e há um projeto escrito sobre essa ação."
g1 - O órgão está apurando essa situação especificamente?
Ibama - "Houve uma notificação aos pesquisadores para prestar informações quanto à autorização de transporte e à autorização do órgão estadual para recebimento dos animais no zoológico em que se encontram."
g1 - Caso esteja, qual o encaminhamento previsto para os animais?
Ibama - "A destinação dos animais está sendo avaliada em conjunto com o ICMBio."
g1 - Há algum posicionamento oficial do Ibama sobre os desdobramentos da investigação até aqui?
Ibama - "Em decorrência de ofício recebido da Polícia Federal referente às investigações conduzidas no âmbito da Operação Celeno, deflagrada em dezembro de 2024, foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para apuração dos fatos relatados, o qual está em curso sob responsabilidade da Corregedoria do Ibama."
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